Motivação e Aprendizagem*

 

                                                                                                 Por Marina  Soares

 

 

Motivação, em termos mais simples “é o que está por trás de nosso comportamento, ou seja, as razões pelas quais fazemos certas coisas” (Morse). [1]Alguns psicólogos têm definições diferenciadas sobre o conceito de motivação. Para Lindsley[2], motivação é “uma combinação de forças que inicia, dirige e sustenta o comportamento em direção a um objetivo”; para Guthrie[3], é “a condição que aumenta o vigor das respostas”; para Albino Ronco[4] é “a expressão, sentida e vivida pelo sujeito, das exigências do organismo psicofísico”; para Nuttin[5], “ao contrário do animal, que age por instinto, a pessoa humana em geral tende a determinar para si, fins cada vez mais avançados que demandam, para serem realizados, um comportamento, bem como uma formação que não cessa de aperfeiçoar-se” e para Beltran[6], “a motivação é um estado interno de ativação, derivada de algum estímulo que ativa a conduta e a dirige para a meta”.

 

A motivação quando aplicada à sala de aula, passa a ser a força ou as energias que o aluno emprega à aprendizagem do momento. Tem-se verificado que os incentivos podem estimular a aprendizagem nos alunos. É muito importante o professor perceber-se como educador e não um mero transmissor de conhecimentos e entender que a motivação no processo de aprendizagem é uma necessidade. A intensidade com que o aluno se empenha nas atividades vai ser proporcional à intensidade dos motivos que o animam.

 

Segundo Carl Rogers[7], se o aluno perceber que as suas aprendizagens são significativas, vai estudar sem a necessidade das pressões externas. Portanto o professor deve estar atento às necessidades do seu aluno sem pressioná-lo e sim incentivá-lo.No entanto, o que se espera é uma motivação do aluno, que não dependa somente do professor e sim, da responsabilidade pelo desejo e vontade.

 

É sabido que muitos alunos não têm projetos e que é muito difícil para o professor propor-lhes ao menos um. A escola também não tem contribuído muito para que isso aconteça, pois seus projetos e programas são idealizados para alunos que obterão sua aprendizagem com “saberes adquiridos e estáveis” (Perrenoud)[8]. A responsabilidade da construção do conhecimento do aluno não pode recair apenas no professor. Este sim deve “ter mais tempo” para o aluno e tentar envolvê-lo mais na sua aprendizagem e trabalho. Isto é uma condição fundamental.

 

Há pessoas que gostam de aprender por aprender, não importando o resultado e sim o processo. Nesse caso, o educador deve somente propor desafios intelectuais e problemas, não insistindo somente nos aspectos utilitários destes. Cada pessoa interessa-se por determinado tipo de coisa e/ou situações diferentes, as quais podem ser estimulantes, interessantes ou não.

 

O professor passa pelas experiências de lidar com alunos com os mais variados comportamentos. Alunos participantes, passivos, exibicionistas, retraídos, questionadores, acomodados, etc... E deste modo deve perceber que cada um é movido por algum motivo que lhe dá sentido aos seus comportamentos. Obviamente esses procedimentos não bastarão para mobilizar todos os alunos, pois todo aprendizado exige esforço, tempo, angústia e medo. Não se pode, no entanto, desprezar as outras motivações dos alunos, as quais são muito importantes.

 

“Ensinar é reforçar a decisão de aprender e estimular o desejo de saber”, (Perrenoud)[9] visando a representação do aluno com a sua relação com o saber. Cabe ao professor fazer com que esta representação que o aluno tem ou traz, com o seu saber, se construa ou consolide. Portanto a “competência” profissional do professor deve ter um certo domínio e compreensão dos fatores sociológicos, didáticos e psicológicos e também deve ter habilidades no processo da transferência dos conhecimentos para que possam ajudar os alunos nas suas práticas sociais, suas motivações, seus saberes, anseios, etc...

 

McClelland[10] e outros estudiosos estabeleceram uma classificação para os modelos teóricos atuais da motivação. São 4 tipos de modelos teóricos:

 

·  Sobrevivência (derivado das necessidades biológicas);

·  Intensidade do estímulo (os estímulos podem ser internos e externos);

·  Padrão do estímulo (não importa a intensidade dos estímulos, mas certos padrões de determinada natureza);

·  Despertar afetivo (emoções / relações com as outras pessoas). 

 

Todos eles são igualmente importantes e, cabe ao professor tentar identificá-los podendo assim conduzir de uma maneira mais adequada as suas atividades de acordo com as motivações dos alunos.

 

O professor deve oferecer outras atividades opcionais de formação, pois a padronização é o que rege atualmente. É importante ele dar um maior sentido à diversificação das atividades e se sentir livre para tal, a fim de conseguir realizar com êxito essas atividades em função de um objetivo de formação.

 

Há uma necessidade em se identificar os projetos pessoais dos alunos, sob todos os seus aspectos, valorizá-los, incentivá-los e fortalecê-los. Nunca se deve desmerecer ou desmotivar um projeto ou desejo do aluno, pois estes normalmente são frágeis e nem sempre justificáveis ou racionais, mas são de importância fundamental para os alunos.

 

Nem todas as pessoas têm a mesma capacidade de realizar projetos, por isso, não se deve exigir de uma criança / aluno que escolha ou decida sobre um projeto pessoal. Cada indivíduo vai ter a construção do seu conhecimento e projetos realizados por diferentes caminhos.

 

Para que a motivação seja bem sucedida, aconselha-se que as atividades escolares partam de uma situação problema que provoquem a curiosidade e a atenção do aluno e estimulem a sua atividade mental. “A função do professor na motivação é desenvolver as atitudes cooperativas e dirigir a atenção sustentada para as tarefas e encorajar a iniciativa” (William A. Kelly)[11].

 

Há dois tipos de motivação: a “positiva”, que leva o aluno a aprender de uma maneira natural e a “negativa”, que obriga o aluno a aprender por meio de castigos, punições e repreensões.

 

A motivação positiva pode ser “intrínseca”, quando leva o aluno a aprender através do interesse pela própria matéria ou pela atração de alguma outra coisa relacionada a ela; e “extrínseca”, quando a motivação não tem nada a ver com a disciplina ou com o interesse por esta e sim para obtenção de uma boa nota, para agradar os pais, para competir com os colegas ou por vaidade.

 

O professor deve prestar atenção se os incentivos estão sendo significativos para os alunos. Precisa variar esses incentivos, mostrando aos alunos a importância do(s) tema(s) discutidos, para as suas vidas presente e futura e principalmente ajudá-los a fazer ligações dos assuntos abordados em pauta com a prática social deles.

 

Sabe-se que não é fácil motivar os alunos, mas o professor tem que ter em mente que resistências e problemas surgirão, mas com competência, tranqüilidade, persistência e paciência, seus objetivos enquanto educadores poderão tornar-se possíveis.

 

A motivação, portanto, é de suma importância no processo de ensino e aprendizagem e o sucesso desse processo depende em primeiro lugar da motivação dos alunos.

 

                       

“Se o professor pensa que sua tarefa é ensinar o ABC e ignora a pessoa de seus estudantes e a condição em que vivem, obviamente não vai aprender a pensar politicamente ou talvez vá agir politicamente em termos conservadores, prendendo a sociedade a laços do passado, ao subterrâneo da cultura e da economia”.(Florestan Fernandes)[1].


 

 


[1] MORSE, Willian C. e WINGO, G. Max. Psicologia e Ensino. 2o.vol. São Paulo: Pioneira, 1978.

[2] LINDSLEY, D.B. “Emotions and the eletroencephalogram”. In: M.L. Reynert (ed), Feelings and Emotions. Nova York: McGraw-Hill, 1950.

[3] GUTHRIE, E.R. The psychology of learning. Nova York: Harper& Row, 1952.

[4] RONCO, Albino. Introduzione alla psicologia I – Psicologia Dinâmica. 2a.ed. Roma: LAS, 1976, p.26.

[5]  NUTTIN, J. “Développment de la motivación et formación”, Educación Permanente no.88/89, p.98.

[6] BELTRAN, Jesus Llera. Psicologia. São Paulo: Vozes, 1993, p.262

[7] ROGERS, Carl.  Liberdade para Aprender. 4a.ed. Belo Horizonte:Interlivros, 1977.

[8] PERRENOUD, Philippe. 10 Novas Competências para ensinar. Tradução de Patrícia Chittoni Ramos. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.

[9] Idem

[10] MCCLELLAND. “Modelos teóricos atuais da motivação”. In: GALLATIN, Judith.  Adolescência e Individualidade.Habra, 1982.

[11] KELLY, A. W. Psicologia Educacional. Rio de Janeiro, 1959.

[12] FERNANDES, Florestan. “A Formação política e o trabalho do professor”. In: CATANI, D.B. (org) et alli. Universidade, escola e formação  de professores. São Paulo: Brasiliense, 1986, pp. 13-37.

 

 

 

*Ref. Bibliográfica:

 SOARES, Marina Lisboa. Motivação e Aprendizagem. Flórida Review, Miami /FLA- USA. Seção Educação, ano18, n.356, p.47, 15 set. 2003.

 

 

Marina Lisboa Soares

Pedagoga / Habilitação em Or. Educacional – Ênf. em RH. / Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional (Universidade Presbiteriana Mackenzie)

E-mail: contato@mlspsicopedagogia.com

 

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