A Importância dos Contos de Fada *

 Por Marina Soares

 

 

O nosso século tem negado veementemente a coexistência entre a inteligência racional-científica e o pensamento mágico ou metafísico.

 

A “ciência”, que sempre tentou oferecer explicações aos seres humanos, sobre os fenômenos naturais, destruindo a idéia de transcendência, do mistério, da imaginação e até de Deus, está sendo levada a reconsiderar esses paradigmas. Essa “abertura científica” propiciou aos seres humanos, uma visão mais mágica do universo em que vivemos.

 

Os contos de fada nos levam a uma viagem através dos tempos e povos, proporcionando aprendizagens significativas e trazendo à tona a luta do “eu”, na sua realização interior em suas relações com os valores universais éticos, ou seja, para o que se volta para o bem comum.

 

O que chamamos de contos de fada eram narrativas originalmente transmitidas oralmente e tinham como característica, transmitir certos costumes ou certo ethos através das gerações.

 

Esses contos, na realidade, não foram imaginados para crianças, e sim, para os adultos. Eram contados nas festas dos salões e nada tinham de inocente. As histórias continham assassinatos bárbaros, adultérios, incestos, entre outras coisas nada infantis.

 

Pode-se dizer que a literatura infantil surgiu com o advento da classe média, do século XVII, no qual crianças eram vistas como adultos em miniatura. Não havia o conceito que temos hoje, de que crianças são seres delicados e necessitam de uma educação especial. Naquela época, os padrões adotados para os adultos, eram aplicados à criança “em miniatura”.

 

O profundo sentido de “verdade humana”, inserida nesses contos, dirigidos inicialmente aos adultos, transforma-se aos poucos em contos infantis. Não se pode prever quando os contos de fada foram criados. Muitos desses contos estão presentes em culturas das mais variadas e foram transmitidos muitas vezes de pai para filho.

 

Há várias controvérsias, mas a primeira publicação que se tem notícia, pode ter sido através de Charles Perrault em 1697. Diz-se também que “a obra teria sido escrita por Perrault, mas assinada pelo seu filho Pierre Darmacour-Perrault” (Gilles).[1] Devido ao seu estilo novo, de estrutura e natureza diferenciadas dentro da literatura, Perrault, portanto, foi eleito o criador da Literatura da Criança.

Logo após surgiram outros grandes contadores de histórias, tais como os irmãos Jacob e Wilhelm Grimm, Hans Christian Andersen, entre outros fabulosos escritores e contadores de histórias infantis.

 

Autores como C.S.Lewis, Tolkien, Chesterton e Jolles também conseguiram expor seus importantes escritos visando o processo de “conscientização da própria finitude”, a criatividade, o senso crítico, a expressividade, a aprendizagem significativa, a imaginação e principalmente os valores éticos ou da “moral da história”.

 

As obras desses autores despertam o ouvinte ou leitor para outro mundo, permitindo que sintam emoções e sensações, que ao entrarem em contato com o “eu” interior são transformadas, contribuindo para tomadas de decisão, acomodação de sentimentos, reflexões e principalmente para a observação mais crítica da conduta humana, suas convicções e sua fé, além de servirem para a pura diversão.

 

A arte literária, de acordo com esses autores, nos faz ver o mundo com um olhar transformador, pois proporciona uma capacidade de ver e sentir a realidade, de maneira mais sensível, inovadora e abrangente. Com isso, dá-se um maior sentido para se questionar o mundo, buscar, atualizar e refletir sobre o “vazio” existencial com que temos de conviver, neste mundo tão “virtual”.

 

Os contos de fada proporcionam aos seres humanos, um olhar mais generoso, ao mesmo tempo em que permitem uma interatividade com a sua existência concreta e objetiva.

 

Os conflitos, bem como sua superação, fazem parte da vida do ser humano e os contos de fada trabalham diretamente com isso, através de uma simbologia poética que amplia a nossa capacidade de imaginação, da busca da maturidade e expressão de sentimentos.

 

Os contos de fada são fundamentais para a formação da criança leitora, pois o percurso que se faz ao lê-los é o mesmo da nossa história humana. Penetram nos nossos conflitos pessoais, medos, dores, solidão e nas angústias e caminham rumo às superações.

 

A busca da identificação entre os elementos dos contos de fada e a vida pessoal, leva a uma viagem pelas “zonas secretas” da consciência humana, possibilitando conclusões mais satisfatórias, mais conciliadoras e significativas sobre a nossa existência.

 

Para se formar adultos leitores, os contos de fada são essenciais durante a infância. Eles encantam as crianças de modo tão peculiar, que tocam seus sentimentos mais profundos, seus prazeres e suas descobertas ao longo se suas vidas.

 

Os contos de fada realçam os valores positivos e negativos, comparando-os, a fim de se encontrar o equilíbrio tão desejado pelos seres humanos. Esses contos nos falam de maneira simples e despertam em cada leitor uma multiplicidade de sentidos e valores com tal profundidade e encantamento, que os levam do estado de alienação existencial ao despertar existencial e do desprazer ao prazer de lidar com nossos sentimentos.

 

Não importa qual perspectiva que se atribua ao olharmos os contos de fada – psicanalítica, antropológica ou filosófica – todas são igualmente importantes. As narrativas dos contos de fada representam quem somos, por que somos, e o que é justiça e o que ser justo, ou melhor, qual a nossa identidade e o que queremos para a nossa realidade.

 

 

 

* Ref. Bibliográfica:

 

SOARES, Marina Lisboa. A Importância dos Contos de Fada. Florida Review, Miami /FLA- USA. Seção Educação, ano18, n.352, p.26, 15 jul 2003.

 

 

 

 

Marina Lisboa Soares

Pedagoga / Habilitação em Or. Educacional – Ênf. em RH. / Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional (Universidade Presbiteriana Mackenzie)

E-mail: contato@mlspsicopedagogia.com

 

 

 

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[1]GILLES. Apud. DOHME, Vânia. Classificação e um pouco da história das histórias infantis. Disponível em:  http://www.vaniadohme.pro/classificacao%20historias.htm . Acesso em: 12/10/2002. 

 

 

 

 

 


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